sexta-feira, maio 24, 2013

Olympus

Carver,
I do love Bukowski
and Miller
and Sylvia and Nin,
but tomorrow
you will be the one
whispering in my ear,
playing me
as if I were
(and I am)
your little violin.

quarta-feira, maio 22, 2013

Protocolo

É bom receber um sorriso franco, caloroso, sincero,
proposições precedidas por modestos "por favor",
seguidas desse moderato cantabile que é um "obrigado",
proferidas em voz baixa e com dicção pausada
Quão mais macio é o quotidiano
quando perpassado de polidez e gentileza.

Pelo que me pergunto por que teimo
em ser uma pessoa tão bruta,
arremessando farpas e destilando acrimónia?

domingo, maio 19, 2013

Um

Um último pedido,
um abraço franco
de prolongado eterno
um abraço fraterno
mas também amante
um abraço com vagas,
ora laço apertado,
ora apertadíssimo.
Um abraço de seres fundidos
que exilasse as dores
da perda de entes queridos,
que os recolocasse na vida
mesmo que se fossem logo de seguida.
Um abraço quente e salvífico.

sexta-feira, maio 10, 2013

Florzinha

O teu peito sonolento é uma frésia no verão
exposta ao suavíssimo vento

sobe e desce lentamente
perfuma todo o ar do mundo
e arrebata os mais recônditos recantos de mim
que sou em ti.

quinta-feira, maio 02, 2013

Feijão

Vejo este navio na doca de Sta. Apolónia
e penso “é numa coisa destas que vais navegar,
não numa qualquer nau Catrineta,
em ruínas, obsoleta,
votada a ratos, avitaminoses e pragas,
que dessas já houve o que basta.
É numa coisa destas que tens de fazer uma viagem.
Nela não andarás nauseada
e banhar-te-ás em quatro piscinas:
uma ao sol, com bom cinema projectado no seu fundo
de água transparente coberto
e um portentoso bar de vinhos da nossa safra
magicamente suspenso sobre a mesma.
A outra também está descoberta, mas à sombra.
Aí ouvirás música clássica
enquanto devoras sobremesa atrás de sobremesa,
perfumada pelo cheiro do açúcar que carameliza sobre a custarda
É verdade que esta piscina está rodeada de colunas pseudo-bizantinas douradas. Paciência – bem sabes como é apanágio,
nos navios de cruzeiro, haver piroseira.
A terceira é interior, a sua água liberta um luxuriante vapor
com odor cítrico fresco que tudo irá recompor
A quarta é a minha preferida, também está aquecida
e lá decorre uma festa de arromba
com champagne, big band,
livros cujo papel resiste magicamente à água,
e abundam as tuas iguarias preferidas:
queijos, salgadinhos em miniatura,
bolo de morango da Avenida de Roma, gelados italianos
bifes suculentos, batatas fritas belgas ainda a escaldar
e estupidamente estaladiças.
Rimos à gargalhada, dizemos piadas sádicas
politicamente inaceitáveis e descabidas,
entregamo-nos à cretinice e não pedimos desculpa
- não há escrúpulos nem culpas.
Será a sala da Nossa Senhora do Paninho
embalada pelo doce balanço das ondas”