O H. e a M. amam-se
e não se falam
O G. tem um gorro
Eu amo e não falo
Amo-os e não confesso
A L. é bela
A noite é a felicidade
Todos querem ser quem são
são-no agora
Todos querem ser quem não são
são-no agora
quinta-feira, outubro 31, 2013
sábado, outubro 26, 2013
Argerich
"My mother was a goddess",
said the bloody daughter
while her uncertified father
said "bloody
because you love her"
- could have been you
(it was certainly me
and, so I hope,
so will be mine).
[Foto: "Argerich, Bloody Daughter",de Stéphanie Argerich @ doc'13, Cinema São Jorge]
quinta-feira, outubro 24, 2013
Mater
Dos corpos eclipsa-se
a adversidade do atrito
tudo se torna macio
reverberação
rocha húmida
áureo de sol
lunarmente prateado
sal fresco
- não há coerências
nem que mencionar contrários
O que são prédios?
O que são estradas?
Ouço água, águias
o gelo canta
tangido por um fio de cabelo gigante
- quando bate na água
esta suspira mater
quarta-feira, outubro 23, 2013
Pas sérieux
D'être poète
c'est d'avoir dix-sept
ans pour la vie
C'est d'être Rimbaud -
si tu peux,
si t'en veux -
pour la vie
----------------------------------------------------------------------
"On n’est pas sérieux, quand on a dix-sept ans", de Arthur Rimbaud
I
On n’est
pas sérieux, quand on a dix-sept ans.
Un beau soir, foin des bocks et de la limonade,
Des cafés tapageurs aux lustres éclatants!
On va sous les tilleuls verts de la promenade
Un beau soir, foin des bocks et de la limonade,
Des cafés tapageurs aux lustres éclatants!
On va sous les tilleuls verts de la promenade
Les tilleuls sentent bon dans les bons soirs de juin!
L’air est parfois si doux, qu’on ferme la paupière ;
Le vent chargé de bruits, — la ville n’est pas loin,
A des parfums de vigne et des parfums de bière…
L’air est parfois si doux, qu’on ferme la paupière ;
Le vent chargé de bruits, — la ville n’est pas loin,
A des parfums de vigne et des parfums de bière…
II
Voilà qu’on aperçoit un tout petit chiffon
D’azur sombre, encadré d’une petite branche,
Piqué d’une mauvaise étoile, qui se fond
Avec de doux frissons, petite et toute blanche…
D’azur sombre, encadré d’une petite branche,
Piqué d’une mauvaise étoile, qui se fond
Avec de doux frissons, petite et toute blanche…
Nuit de
juin! Dix-sept ans! — On se laisse griser.
La sève est du champagne et vous monte à la tête…
On divague; on se sent aux lèvres un baiser
Qui palpite là, comme une petite bête…
La sève est du champagne et vous monte à la tête…
On divague; on se sent aux lèvres un baiser
Qui palpite là, comme une petite bête…
III
Le cœur fou
Robinsonne à travers les romans,
Lorsque, dans la clarté d’un pâle réverbère,
Passe une demoiselle aux petits airs charmants,
Sous l’ombre du faux-col effrayant de son père…
Lorsque, dans la clarté d’un pâle réverbère,
Passe une demoiselle aux petits airs charmants,
Sous l’ombre du faux-col effrayant de son père…
Et, comme
elle vous trouve immensément naïf,
Tout en faisant trotter ses petites bottines,
Elle se tourne, alerte et d’un mouvement vif…
Sur vos lèvres alors meurent les cavatines…
Tout en faisant trotter ses petites bottines,
Elle se tourne, alerte et d’un mouvement vif…
Sur vos lèvres alors meurent les cavatines…
IV
Vous êtes amoureux. Loué jusqu’au mois d’août.
Vous êtes amoureux - Vos sonnets la font rire.
Tous vos amis s’en vont, vous êtes mauvais goût.
Puis l’adorée, un soir, a daigné vous écrire…!
Vous êtes amoureux - Vos sonnets la font rire.
Tous vos amis s’en vont, vous êtes mauvais goût.
Puis l’adorée, un soir, a daigné vous écrire…!
Ce soir-là… - vous rentrez aux cafés éclatants,
Vous demandez des bocks ou de la limonade…
On n’est pas sérieux, quand on a dix-sept ans
Et qu’on a des tilleuls verts sur la promenade.
Vous demandez des bocks ou de la limonade…
On n’est pas sérieux, quand on a dix-sept ans
Et qu’on a des tilleuls verts sur la promenade.
domingo, outubro 20, 2013
Milagre
Enquanto roubo sono à noite
percorro um léxico aleatório
como se fizesse listas de presentes
para entes meus amados:
beijinhos chupetas acendalhas
azeitonas café búzios vazios
pipetas cubos de gelo pimenta
...
O meu ventre
namora-me as ideias
- flores nascem-me
nas entranhas
e isso é glorioso
percorro um léxico aleatório
como se fizesse listas de presentes
para entes meus amados:
beijinhos chupetas acendalhas
azeitonas café búzios vazios
pipetas cubos de gelo pimenta
...
O meu ventre
namora-me as ideias
- flores nascem-me
nas entranhas
e isso é glorioso
quinta-feira, outubro 17, 2013
Manhã de sol
Quando ouvi aquelas palavras
- que não repetirei -
atirei-me à sua imunda cabeleira pintada.
Puxei-a numa extensão de dois metros
deixando-a depenada.
Pressionei os polegares
sobre os globos oculares
até sentir o fino invólucro
romper-se e o líquido borrifar-me
as articulações hidráulicas
- o nervo óptico aterrorizado
consciente de que não teria mais
utilidade.
Apertei-lhe o pescoço
mas não a deixei inanimada
cega ou com qualquer mácula
porque tudo isto pensei apenas
com o cérebro a abarrotar de cólera.
Sou civilizada. Em pequena,
ensinaram-me inglês, francês,
a gostar de cinema alemão expressionista
e italiano cinquentista, de Monet
e tudo aquilo me parecia coisa
da pequena-burguesia.
Devia conseguir esganar a fulanita
mas todas "as coisas do céu e da terra",
como lhes chamou Shakespeare
e que valem mais que "vã filosofia"
(o que não é mentira)
me impediram.
Crivei os dentes na carne salgada
os olhos resignaram-se à luz do dia
os músculos redescobriam o esforço
as pernas reconciliavam-se com os passos.
Uma entidade qualquer sussurrava-me ao âmago
"Nada de complicado,
aproveita a atenção do traço".
Na boca um sorriso escarninho.
Os pés seguiram caminho.
- que não repetirei -
atirei-me à sua imunda cabeleira pintada.
Puxei-a numa extensão de dois metros
deixando-a depenada.
Pressionei os polegares
sobre os globos oculares
até sentir o fino invólucro
romper-se e o líquido borrifar-me
as articulações hidráulicas
- o nervo óptico aterrorizado
consciente de que não teria mais
utilidade.
Apertei-lhe o pescoço
mas não a deixei inanimada
cega ou com qualquer mácula
porque tudo isto pensei apenas
com o cérebro a abarrotar de cólera.
Sou civilizada. Em pequena,
ensinaram-me inglês, francês,
a gostar de cinema alemão expressionista
e italiano cinquentista, de Monet
e tudo aquilo me parecia coisa
da pequena-burguesia.
Devia conseguir esganar a fulanita
mas todas "as coisas do céu e da terra",
como lhes chamou Shakespeare
e que valem mais que "vã filosofia"
(o que não é mentira)
me impediram.
Crivei os dentes na carne salgada
os olhos resignaram-se à luz do dia
os músculos redescobriam o esforço
as pernas reconciliavam-se com os passos.
Uma entidade qualquer sussurrava-me ao âmago
"Nada de complicado,
aproveita a atenção do traço".
Na boca um sorriso escarninho.
Os pés seguiram caminho.
terça-feira, outubro 15, 2013
One gift
Cassandra's truth is
somehow black light
Be granted one gift alone
whilst any other is utterly denied
and since you have but black light
you might as well be blind
somehow black light
Be granted one gift alone
whilst any other is utterly denied
and since you have but black light
you might as well be blind
terça-feira, outubro 08, 2013
Tecelagem
Apostar num descontrolo tranquilo
e acreditar nele sem pressa
aderir por contacto imperceptível
- quase imobilidade.
O sedimento de uma camisa
de noite de teia aracnoideia,
dura-mater, pia-mater
meníngeo
que, nesta lentidão,
é agente numa epopeia
complacente
como uma pálpebra
que embalasse um olho.
É Outono e a chuva parou.
Antes florimos.
Agora, não passamos de
jardineiros da dor.
e acreditar nele sem pressa
aderir por contacto imperceptível
- quase imobilidade.
O sedimento de uma camisa
de noite de teia aracnoideia,
dura-mater, pia-mater
meníngeo
que, nesta lentidão,
é agente numa epopeia
complacente
como uma pálpebra
que embalasse um olho.
É Outono e a chuva parou.
Antes florimos.
Agora, não passamos de
jardineiros da dor.
segunda-feira, outubro 07, 2013
Non Matter
Human things are to feel
Hummingbirds,
like unicorns,
simply do not exist
Human things are human beings
Human beings are feeling things
Still human
Still beings
Still things
Maybe they
too
do not exist
Hummingbirds,
like unicorns,
simply do not exist
Human things are human beings
Human beings are feeling things
Still human
Still beings
Still things
Maybe they
too
do not exist
sexta-feira, outubro 04, 2013
Ataraxia
A translucent ocean
of NOTHINGNESS
is healing my heart
This liquid green thing
lingering
drinking my angel[ic] desire
Porcelain and steel bleed
warming me
- this marble daughter
of NOTHINGNESS
is healing my heart
This liquid green thing
lingering
drinking my angel[ic] desire
Porcelain and steel bleed
warming me
- this marble daughter
quinta-feira, outubro 03, 2013
Putrefacção
mundo pousado
sobre uma pedra
de gelo amolecido
baliza incerta
o país é um patim
que rola consoante os petardos
da tríade da prataria
dos donos do visco
e das coisas que cintilam
quando extraídas da mina
bêbedos como medronhos,
seres sem idade
com sexo grevista
e máscara amarrotada
já nem ao nada
se entregam
o que importa que
sempre tenham existido?
agora são às carradas
o planeta dá qual vaca leiteira,
e a economia divertida
enquanto o gelo derrete
nos pólos
e em exorbitantes whiskys
sobre uma pedra
de gelo amolecido
baliza incerta
o país é um patim
que rola consoante os petardos
da tríade da prataria
dos donos do visco
e das coisas que cintilam
quando extraídas da mina
bêbedos como medronhos,
seres sem idade
com sexo grevista
e máscara amarrotada
já nem ao nada
se entregam
o que importa que
sempre tenham existido?
agora são às carradas
o planeta dá qual vaca leiteira,
e a economia divertida
enquanto o gelo derrete
nos pólos
e em exorbitantes whiskys
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