e
penso “é numa coisa destas que vais navegar,
não
numa qualquer nau Catrineta,
em
ruínas, obsoleta,
votada
a ratos, avitaminoses e pragas,
que
dessas já houve o que basta.
É
numa coisa destas que tens de fazer uma viagem.
Nela
não andarás nauseada
e
banhar-te-ás em quatro piscinas:
uma
ao sol, com bom cinema projectado no seu fundo
de
água transparente coberto
e
um portentoso bar de vinhos da nossa safra
magicamente
suspenso sobre a mesma.
A
outra também está descoberta, mas à sombra.
Aí
ouvirás música clássica
enquanto
devoras sobremesa atrás de sobremesa,
perfumada
pelo cheiro do açúcar que carameliza sobre a custarda
É
verdade que esta piscina está rodeada de colunas pseudo-bizantinas douradas. Paciência
– bem sabes como é apanágio,
nos
navios de cruzeiro, haver piroseira.
A
terceira é interior, a sua água liberta um luxuriante vapor
com
odor cítrico fresco que tudo irá recompor
A
quarta é a minha preferida, também está aquecida
e
lá decorre uma festa de arromba
com
champagne, big band,
livros
cujo papel resiste magicamente à água,
e
abundam as tuas iguarias preferidas:
queijos,
salgadinhos em miniatura,
bolo
de morango da Avenida de Roma, gelados italianos
bifes
suculentos, batatas fritas belgas ainda a escaldar
e
estupidamente estaladiças.
Rimos
à gargalhada, dizemos piadas sádicas
politicamente
inaceitáveis e descabidas,
entregamo-nos
à cretinice e não pedimos desculpa
-
não há escrúpulos nem culpas.
Será
a sala da Nossa Senhora do Paninho
embalada
pelo doce balanço das ondas”
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