quinta-feira, janeiro 09, 2014

paper

My liberty and self are
"There" - it started
But it really had to start
somewhere
Therefore why not
with graffiti or a pen?

Are we here or elsewhere
while I'm scribbling rubbish
on a bloody
piece of paper,
you stupid future
lover?


papel

A minha liberdade e eu somos
"Ali" - começou
se tinha de ser
assim, porque não
com grafite ou caneta?

Estamos aqui algures
enquanto rabisco lixo
num malfadado
pedaço de papel
meu estúpido futuro
amante?

domingo, dezembro 29, 2013

Espera de

Aqueles vocábulos chapearam-me
a prata. Sem lirismos deixaram-me
em chumbo blindada
com fechadura corroída
pelo verdete
quando água, e não
os meus próprios unguentos,
penetrou por dentro
a música alheia
tornada tormenta.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Lides

Nem nos sonhos
tolerarei engodos
camas de gato
ardis ou logros
que encerrem
como propósito
manter emoções
em andas.
Não existe música cujo ritmo acerte
em fracturantes danças
nem o equilíbrio deve ser desbaratado
em lides de funâmbula
quando se transporta uma celha
com a última água
e na mão esquerda
uma brasa um resquício de chama

É teu o meu regaço
sejas leopardo apoiado
sobre a carne
garras da pata dianteira
esgravatando-me o mamilo
debatendo-se por um esguicho
leitoso ou sanguíneo.
Tudo isto é leal
e inequívoco.

domingo, novembro 17, 2013

Desbravámos os trópicos.

Sobre os trilhos
deitámos os corpos
avaliando a temperatura
do solo
até ao cerne do mundo.

Estugámos o passo sem resposta
numa finisterra de geografia oculta.
Olhos nos olhos
concebemos novo cosmos
com a veleidade de gestar
um universo condicionado.
Saciámos chave e fechadura
a porta não se abriu
e o cosmos que criámos
é mais hermético que o nosso.

quarta-feira, novembro 13, 2013

Vértices

Não me cruzarei
contigo numa viela
Não trocaremos olhares
nem congeminarás,
para o meu itinerário,
trajectórias acidentadas
O sol vai tardar a nascer
e não dispensarei
um segundo de escuridão
nem um milímetro cúbico
de pele a ninguém.

sexta-feira, novembro 08, 2013

Hadopelágica

A água resvala pelo açude
pesa nos oceanos
estáticos como embondeiros
profundos profundos
como as raízes
do salgueiro
em choro desfeito
que desce lento
para o reino do bréu

e do silêncio.

Ofídio

Pertenço a uma serpente
benévola que atravessa
Lisboa mordiscante.

Retirei-me das veias
mas atento sempre ao pulso
à espera de poder
trocá-lo pelo mergulho.


terça-feira, novembro 05, 2013

Vagem

Reabilito os vícios
ou antes rogo-lhes
que me recebam de volta,
que me leiam, ditem e digam.
Exijo a devolução da visão
do deslumbramento melancólico
e uma dentada de cão
no músculo atónito.
Reabilito os vícios
quero-os de volta ser
ervilha vestida da vagem
que me torna vagamente imóvel.
Quando despida
rolarei fecunda até ao coito.

domingo, novembro 03, 2013

Mutações

Talvez os meus olhos
tenham corrompido
o seu papel
julgando.
Hoje só perscrutam
- são o meu corpo todo,
profuso de tentáculos:
anémonas,
tudo palpam,
inventam sensações.

quinta-feira, outubro 31, 2013

Las meninas

O H. e a M. amam-se
e não se falam
O G. tem um gorro
Eu amo e não falo
Amo-os e não confesso
A L. é bela
A noite é a felicidade
Todos querem ser quem são
são-no agora
Todos querem ser quem não são
são-no agora