segunda-feira, junho 08, 2015

Violadores de Piauí

Os nossos corações de mercúrio
abominam os campos de Iaru,
os nossos falos repugnam conos
desde o vale ao delta do Nilo,

os dedos comem signos,
aniquilam fêmeas
mas deixam vestigia
até mãos alheias nos remeterem
à balança infalível da psicostasia.

segunda-feira, novembro 24, 2014

Faquir

Estas palavras:
«Agora batia-te e depois
dizia-te que a isso me levavas».
Um dia ouvi estas palavras.

 

Inventei então uma copa infinita,

cópulas fundistas oriundas

do país dos ilusionistas

com hermafroditas  sagitários

enfim bestiários  botânica parasitária

um metropolitano opiáceo

com carruagens almofadadas

túneis grená onde viajava

numa imobilidade ensimesmada

de modo a não sentir o arrepio.

terça-feira, outubro 21, 2014

Arcade

Despicable lover
but not for me
ever to play the role
of the outraged virgin.

I had rather say
there is nothing worthier
than the arcade you gaze
- bones gathered on the plate,
  greese and saliva all over the place.

segunda-feira, outubro 13, 2014

Aio

É ilusória a greve do palato.

Se não como mas recordo
o teu cheiro encarnado

o que importa a ausência
da seiva do jarro?


sexta-feira, setembro 05, 2014

Bijou

Existem coisas absolutamente correctas
como a dose de leite servida na Bijou
com o chá preto de saqueta.

Café que se preze é
mutatis mutandis
uma biblioteca.

quinta-feira, janeiro 09, 2014

paper

My liberty and self are
"There" - it started
But it really had to start
somewhere
Therefore why not
with graffiti or a pen?

Are we here or elsewhere
while I'm scribbling rubbish
on a bloody
piece of paper,
you stupid future
lover?


papel

A minha liberdade e eu somos
"Ali" - começou
se tinha de ser
assim, porque não
com grafite ou caneta?

Estamos aqui algures
enquanto rabisco lixo
num malfadado
pedaço de papel
meu estúpido futuro
amante?

domingo, dezembro 29, 2013

Espera de

Aqueles vocábulos chapearam-me
a prata. Sem lirismos deixaram-me
em chumbo blindada
com fechadura corroída
pelo verdete
quando água, e não
os meus próprios unguentos,
penetrou por dentro
a música alheia
tornada tormenta.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Lides

Nem nos sonhos
tolerarei engodos
camas de gato
ardis ou logros
que encerrem
como propósito
manter emoções
em andas.
Não existe música cujo ritmo acerte
em fracturantes danças
nem o equilíbrio deve ser desbaratado
em lides de funâmbula
quando se transporta uma celha
com a última água
e na mão esquerda
uma brasa um resquício de chama

É teu o meu regaço
sejas leopardo apoiado
sobre a carne
garras da pata dianteira
esgravatando-me o mamilo
debatendo-se por um esguicho
leitoso ou sanguíneo.
Tudo isto é leal
e inequívoco.

domingo, novembro 17, 2013

Desbravámos os trópicos.

Sobre os trilhos
deitámos os corpos
avaliando a temperatura
do solo
até ao cerne do mundo.

Estugámos o passo sem resposta
numa finisterra de geografia oculta.
Olhos nos olhos
concebemos novo cosmos
com a veleidade de gestar
um universo condicionado.
Saciámos chave e fechadura
a porta não se abriu
e o cosmos que criámos
é mais hermético que o nosso.

quarta-feira, novembro 13, 2013

Vértices

Não me cruzarei
contigo numa viela
Não trocaremos olhares
nem congeminarás,
para o meu itinerário,
trajectórias acidentadas
O sol vai tardar a nascer
e não dispensarei
um segundo de escuridão
nem um milímetro cúbico
de pele a ninguém.