se fitar esta calçada íngreme
que vai mergulhar no rio
confundir-me-ei com ele
à semelhança da cidade
e assim prestar tributo
às virtudes do tempo quente:
a fluidez macia
um peso ligeiro e perfumado
dança lenta
pescoço arqueado até à nuca
boca semiaberta
indiferente ao ar que sai e entra
sábado, agosto 11, 2012
quinta-feira, agosto 09, 2012
apneia
namoro-te em cada objecto com que me deparo
espreitas-me sobre o ombro quando me olho ao espelho
adivinho-te ao virar da esquina
ou oculto nesta e naquela sombra
leio-te em todas as páginas
de todos os livros, dicionários, enciclopédias,
periódicos sérios ou pasquins
tornaste-te o odor de cada prato que cozinho
para depois te comer
uma garfada após outra
e beber-te em goles de vinho
sinto-te tão meu
que és outro de mim
espreitas-me sobre o ombro quando me olho ao espelho
adivinho-te ao virar da esquina
ou oculto nesta e naquela sombra
leio-te em todas as páginas
de todos os livros, dicionários, enciclopédias,
periódicos sérios ou pasquins
tornaste-te o odor de cada prato que cozinho
para depois te comer
uma garfada após outra
e beber-te em goles de vinho
sinto-te tão meu
que és outro de mim
segunda-feira, agosto 06, 2012
tutela
de noite, adormeces-me no meu colo
afugento-te os pesadelos
limpo-te e alimento-te
beijo-te as feridas
ralho-te e perscruto-te sans césse
por isso pergunto
quem te protegerá de mim?
das minhas vagas
dos meus sonhos
das minhas paixões colossais
das minhas visões com cores garridas
quem te salvará do cativeiro maternal
e da minha essencial liberdade desgrenhada?
afugento-te os pesadelos
limpo-te e alimento-te
beijo-te as feridas
ralho-te e perscruto-te sans césse
por isso pergunto
quem te protegerá de mim?
das minhas vagas
dos meus sonhos
das minhas paixões colossais
das minhas visões com cores garridas
quem te salvará do cativeiro maternal
e da minha essencial liberdade desgrenhada?
sábado, agosto 04, 2012
obrigada
sonhei-te e despiste-me dos anos
devolveste-me o sofrimento,
um coração congestionado e palpitante,
pelo que te agradeço tanto
a insegurança
as gargalhadas
o formigueiro
e as cócegas na alma
devolveste-me o sofrimento,
um coração congestionado e palpitante,
pelo que te agradeço tanto
a insegurança
as gargalhadas
o formigueiro
e as cócegas na alma
quinta-feira, agosto 02, 2012
post it
murmuro o teu nome à orla
mergulho e abro bem os olhos
engulo a água salgada
entro no meu portal do tempo
e ele lava-me as mazelas
e escaras terrestres
o sol tornou-se vela tremeluzente
a invocação do teu toque
tornou tudo incandescente
cada molécula de água
esculpe a tua imagem nos recifes
para que saibas que sou tua
mergulho e abro bem os olhos
engulo a água salgada
entro no meu portal do tempo
e ele lava-me as mazelas
e escaras terrestres
o sol tornou-se vela tremeluzente
a invocação do teu toque
tornou tudo incandescente
cada molécula de água
esculpe a tua imagem nos recifes
para que saibas que sou tua
sexta-feira, julho 27, 2012
rubor invisível
hoje dei por mim:
- a caminhar encostada aos azulejos do metro
para que me arrefecessem a pele dos meus ombros
e, arrepios vítreos
- a tocar ao de leve com as plantas dos pés na erva
para que me fizesse cócegas frescas,
pois mais parecia que caminhara sobre piso em brasa
- a inspirar fundo o odor do centro de arte moderna,
que sempre adorei, e a contemplar, no bar,
as fatias douradas
- a monologar com patos (adultos e crias)
jurei:
- não esquecer nada
- resolver tudo
- ter calma
- percorrer um trajecto rectilíneo e seguro
cometi perjúrio.
devia estar mesmo muito encalorada.
- a caminhar encostada aos azulejos do metro
para que me arrefecessem a pele dos meus ombros
e, arrepios vítreos
- a tocar ao de leve com as plantas dos pés na erva
para que me fizesse cócegas frescas,
pois mais parecia que caminhara sobre piso em brasa
- a inspirar fundo o odor do centro de arte moderna,
que sempre adorei, e a contemplar, no bar,
as fatias douradas
- a monologar com patos (adultos e crias)
jurei:
- não esquecer nada
- resolver tudo
- ter calma
- percorrer um trajecto rectilíneo e seguro
cometi perjúrio.
devia estar mesmo muito encalorada.
agora
deserto de areia, não repetimos a cara
apenas a substância
não sabemos como somos
como seremos
aqui estamos e, por isso, agradecemos
agora
agora não
apenas a substância
não sabemos como somos
como seremos
aqui estamos e, por isso, agradecemos
agora
agora não
terça-feira, julho 24, 2012
anelar
se eu pudesse
morava neste quiosque
observava as árvores o tempo todo
e fumava cigarros sem parar
via os rapazes a passar
e as raparigas também
embebedava-me em cada noite do estio
depois de um ocaso verde
de noite, recebia-te,
meu amante
morava neste quiosque
observava as árvores o tempo todo
e fumava cigarros sem parar
via os rapazes a passar
e as raparigas também
embebedava-me em cada noite do estio
depois de um ocaso verde
de noite, recebia-te,
meu amante
domingo, maio 13, 2012
Ribeira
Ribeira, eras o nosso bazar
As flores e as cabeças de peixe
com olhos vítreos fitando uma última recordação de mar
no Tejo
boca entreaberta
que procurava uma última golfada de ar
fugindo aterrorizado da ideia de se tornar carcaça
vermelho vivo sucumbindo atrás da prata das gélidas escamas
até se vir sobre a bancada
e a posta de pescada
do cliente incauto
que morreria de asca
se conhecesse estas vicissitudes
do peixe que, apetitoso,
lhe jaz agora no prato
quarta-feira, janeiro 04, 2012
Geronte
Aquelas folhas
no chão
pertencem àquela árvore
Folhas verdejantes na copa,
lá medram sem cópula
e no outono caem pelo chão
A árvore ensimesmada
esquece-se de que lá estão
As folhas são jovens
As árvores persistirão
no chão
pertencem àquela árvore
Folhas verdejantes na copa,
lá medram sem cópula
e no outono caem pelo chão
A árvore ensimesmada
esquece-se de que lá estão
As folhas são jovens
As árvores persistirão
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