quero voltar a encontrar
a minha cara cinzenta
aquela que, no segundo seguinte,
se torna amarela ou magenta
quero conseguir discernir
o branquíssimo cabelo
na cabeleira preta
reencontrar a faceta vermelha
que habita toda a página branca
terça-feira, junho 16, 2009
quinta-feira, junho 11, 2009
Sto. António
Ó meu rico Sto. António
A ti raramente escrevi
Mas se de facto já o fiz,
nunca foi por necessidade
Maridos tive-os aos montes
E já matei imensos manjericos
Também tive noites de festa dementes
Por isso só te peço que não me invejes
domingo, dezembro 21, 2008
Ocidente
Não sei se reparaste
mas caminhei para nascente
quando devia ter caminhado para poente
Aliás, devia caminhar sempre para poente
até chegar a nascente
Como os ponteiros giram da esquerda para a direita
eu caminho para poente
Não como quem persegue o sol
mas como quem foge dele
numa condição de bacante viandante
mas caminhei para nascente
quando devia ter caminhado para poente
Aliás, devia caminhar sempre para poente
até chegar a nascente
Como os ponteiros giram da esquerda para a direita
eu caminho para poente
Não como quem persegue o sol
mas como quem foge dele
numa condição de bacante viandante
sábado, novembro 25, 2006
Tempesta
O dia estava
na verdade
negro.
O mar estava medonho.
Olhei-o nos olhos
eternamente tristonhos
Quero apenas dizer-te
que dentro deste eterno encontro verde
nada pode esmorecer.
na verdade
negro.
O mar estava medonho.
Olhei-o nos olhos
eternamente tristonhos
Quero apenas dizer-te
que dentro deste eterno encontro verde
nada pode esmorecer.
terça-feira, abril 25, 2006
Pupila
Na madrugada
desperta
as minhas pupilas
fitam as tuas pálpebras fechadas
Os teus espasmos
despertam-me para o amorfismo
da minha vigília
nenhum conforto me advém do teu
belo sono moreno.
Esmaga
com o teu corpo
os frutos podres de Morfeu
meu Orfeu.
desperta
as minhas pupilas
fitam as tuas pálpebras fechadas
Os teus espasmos
despertam-me para o amorfismo
da minha vigília
nenhum conforto me advém do teu
belo sono moreno.
Esmaga
com o teu corpo
os frutos podres de Morfeu
meu Orfeu.
terça-feira, dezembro 27, 2005
Matérias
Quem diria
finalmente a paz
Pedras de sal caem sobre o telheiro
Dir-se-ia
"gotas de chuva!"
Mas não são
Pedras de sal são
Mens são in corpore são
São sãs?
As gotas de chuva,
são sãs?
Sim são.
Parece que sim
Parece que não
São são.
São não.
finalmente a paz
Pedras de sal caem sobre o telheiro
Dir-se-ia
"gotas de chuva!"
Mas não são
Pedras de sal são
Mens são in corpore são
São sãs?
As gotas de chuva,
são sãs?
Sim são.
Parece que sim
Parece que não
São são.
São não.
quarta-feira, novembro 23, 2005
Ulisses regressado
Deitado
imprimo igual empenho
na apatia e no fabrico
de rodas de fumo.
Penélope tece
dedicada.
Estarei mesmo em Ítaca?
Quem deverei consultar:
Hades, Zeus, a Pítia?
Nenhum.
Ítaca há-de ser
onde Penélope tecer.
imprimo igual empenho
na apatia e no fabrico
de rodas de fumo.
Penélope tece
dedicada.
Estarei mesmo em Ítaca?
Quem deverei consultar:
Hades, Zeus, a Pítia?
Nenhum.
Ítaca há-de ser
onde Penélope tecer.
segunda-feira, outubro 31, 2005
Inquietação
O homem que come o caixote
do lixo sente certamente
o sabor amargo
das palavras que
de tempos a tempos
assolam o pensamento
de qualquer sujeito
A pele das batatas ainda não oxidou.
Já o leite, azedou.
Estaria a mama da mãe seca?
Treme a mão?
do lixo sente certamente
o sabor amargo
das palavras que
de tempos a tempos
assolam o pensamento
de qualquer sujeito
A pele das batatas ainda não oxidou.
Já o leite, azedou.
Estaria a mama da mãe seca?
Treme a mão?
quarta-feira, setembro 07, 2005
Hier soir
Hier soir j'ai fait le trottoir
Restos de pó de papoila
comprimidos estropiados
dejectos fossilizados
cantaria decomposta
a súcia que explora.
Piso a avenida.
Ziguezagueando espectros,
reconfortei-me no jejum
afoguei-me num copo de água
satisfez-me a bolha
filha do salto agulha.
Restos de pó de papoila
comprimidos estropiados
dejectos fossilizados
cantaria decomposta
a súcia que explora.
Piso a avenida.
Ziguezagueando espectros,
reconfortei-me no jejum
afoguei-me num copo de água
satisfez-me a bolha
filha do salto agulha.
sexta-feira, agosto 05, 2005
Requiem
Entre quatro paredes
de pedra dura
rogo-te que me magoes.
Relembra-me o corpo
e silenciarás a dor
num destes dias
de papier-maché
desses jornais
desses jornais
que descrevem o fogo
a cinza o fumo sobre a cidade
durante o horrível crepúsculo.
Que seja um requiem este opúsculo.
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