hoje dei por mim:
- a caminhar encostada aos azulejos do metro
para que me arrefecessem a pele dos meus ombros
e, arrepios vítreos
- a tocar ao de leve com as plantas dos pés na erva
para que me fizesse cócegas frescas,
pois mais parecia que caminhara sobre piso em brasa
- a inspirar fundo o odor do centro de arte moderna,
que sempre adorei, e a contemplar, no bar,
as fatias douradas
- a monologar com patos (adultos e crias)
jurei:
- não esquecer nada
- resolver tudo
- ter calma
- percorrer um trajecto rectilíneo e seguro
cometi perjúrio.
devia estar mesmo muito encalorada.
sexta-feira, julho 27, 2012
agora
deserto de areia, não repetimos a cara
apenas a substância
não sabemos como somos
como seremos
aqui estamos e, por isso, agradecemos
agora
agora não
apenas a substância
não sabemos como somos
como seremos
aqui estamos e, por isso, agradecemos
agora
agora não
terça-feira, julho 24, 2012
anelar
se eu pudesse
morava neste quiosque
observava as árvores o tempo todo
e fumava cigarros sem parar
via os rapazes a passar
e as raparigas também
embebedava-me em cada noite do estio
depois de um ocaso verde
de noite, recebia-te,
meu amante
morava neste quiosque
observava as árvores o tempo todo
e fumava cigarros sem parar
via os rapazes a passar
e as raparigas também
embebedava-me em cada noite do estio
depois de um ocaso verde
de noite, recebia-te,
meu amante
domingo, maio 13, 2012
Ribeira
Ribeira, eras o nosso bazar
As flores e as cabeças de peixe
com olhos vítreos fitando uma última recordação de mar
no Tejo
boca entreaberta
que procurava uma última golfada de ar
fugindo aterrorizado da ideia de se tornar carcaça
vermelho vivo sucumbindo atrás da prata das gélidas escamas
até se vir sobre a bancada
e a posta de pescada
do cliente incauto
que morreria de asca
se conhecesse estas vicissitudes
do peixe que, apetitoso,
lhe jaz agora no prato
quarta-feira, janeiro 04, 2012
Geronte
Aquelas folhas
no chão
pertencem àquela árvore
Folhas verdejantes na copa,
lá medram sem cópula
e no outono caem pelo chão
A árvore ensimesmada
esquece-se de que lá estão
As folhas são jovens
As árvores persistirão
no chão
pertencem àquela árvore
Folhas verdejantes na copa,
lá medram sem cópula
e no outono caem pelo chão
A árvore ensimesmada
esquece-se de que lá estão
As folhas são jovens
As árvores persistirão
sábado, outubro 29, 2011
Epifania
o horror do nada
ou o nada é que é o horror?
o mergulho na água,
mar sem princípio,
ilimitado,
e eterno cantor
os dedos do bebé
o riso de cristal
Maria Helena semi-submersa
nessa massa salgada
que é o oposto da terra
ou o nada é que é o horror?
o mergulho na água,
mar sem princípio,
ilimitado,
e eterno cantor
os dedos do bebé
o riso de cristal
Maria Helena semi-submersa
nessa massa salgada
que é o oposto da terra
quarta-feira, dezembro 29, 2010
Contratempos
Sentimentos,
massa homogénea
de histeria e sal
lugares de ausência da ciência
onde nascem sangue, cores, relevos
que já nada têm de mental
Uma terra de tormenta
esquecida por Apolo
escarpa acima, escarpa a baixo
este corpo luta
nesta estrutura imaterial
Por mais estranho que pareça,
o debate faz sentido
massa homogénea
de histeria e sal
lugares de ausência da ciência
onde nascem sangue, cores, relevos
que já nada têm de mental
Uma terra de tormenta
esquecida por Apolo
escarpa acima, escarpa a baixo
este corpo luta
nesta estrutura imaterial
Por mais estranho que pareça,
o debate faz sentido
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Templo
o coração já não batia
mas o relógio ainda tiquetava
nesse dia em que envelheci vinte anos
de uma penada
enganada que fui
- ou que andava -
por um tempo
que me interrogo se será criança
ou um velho de barba
não questionei o valor da vida
das coisas
se somos realmente livres
felizes
não reclamei de nada
a lágrima, essa sim, rolava
pelo meu rosto sem atrito
provavelmente inexpressivo
que reflectia uma alma embebida em tristeza resignada
mas o relógio ainda tiquetava
nesse dia em que envelheci vinte anos
de uma penada
enganada que fui
- ou que andava -
por um tempo
que me interrogo se será criança
ou um velho de barba
não questionei o valor da vida
das coisas
se somos realmente livres
felizes
não reclamei de nada
a lágrima, essa sim, rolava
pelo meu rosto sem atrito
provavelmente inexpressivo
que reflectia uma alma embebida em tristeza resignada
sexta-feira, dezembro 10, 2010
Carne e osso
Se isto der para o torto
e um dia eu não for mais que uma alma penada
não ajas como se não se passasse nada
revolta-te, chora
e exige ao destino o meu regresso
E não sejas reservado
- quero ouvir e ver o teu nojo do outro lado
Cerra os punhos e esmurra o chão
com máxima indignação
impregna as minhas fotografias com lágrimas
até o sódio corroer a emulsão
Desce a Rua da Saudade
Mais a da Atalaia
sustém-te nas Portas de Sto. Antão
fita as encostas das nossas colinas
e lembra-te de que eu era como elas
- de que eu era elas -
grita que não me perdoarás os hífenes e as gralhas
até eu estar
de carne e osso
ao teu lado deitada
e um dia eu não for mais que uma alma penada
não ajas como se não se passasse nada
revolta-te, chora
e exige ao destino o meu regresso
E não sejas reservado
- quero ouvir e ver o teu nojo do outro lado
Cerra os punhos e esmurra o chão
com máxima indignação
impregna as minhas fotografias com lágrimas
até o sódio corroer a emulsão
Desce a Rua da Saudade
Mais a da Atalaia
sustém-te nas Portas de Sto. Antão
fita as encostas das nossas colinas
e lembra-te de que eu era como elas
- de que eu era elas -
grita que não me perdoarás os hífenes e as gralhas
até eu estar
de carne e osso
ao teu lado deitada
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Herbário
O papel impresso
deve ser a matéria mais doce que conheço
Agradeço ao meu livro
estas horas passadas debaixo
do amarelo-dourado verde
quando divindades diversas
provenientes de mitologias
remotas e desconhecidas
cantadas por um poeta desdentado
me povoaram o olhar
por detrás da córnea
e me beijaram o veludo
pela ganga resguardado
permitindo-me escrevinhar estes versos miúdos
que saltaram desta caldeira
onde ultimamente não tem ardido muita lenha
deve ser a matéria mais doce que conheço
Agradeço ao meu livro
estas horas passadas debaixo
do amarelo-dourado verde
quando divindades diversas
provenientes de mitologias
remotas e desconhecidas
cantadas por um poeta desdentado
me povoaram o olhar
por detrás da córnea
e me beijaram o veludo
pela ganga resguardado
permitindo-me escrevinhar estes versos miúdos
que saltaram desta caldeira
onde ultimamente não tem ardido muita lenha
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