O homem que come o caixote
do lixo sente certamente
o sabor amargo
das palavras que
de tempos a tempos
assolam o pensamento
de qualquer sujeito
A pele das batatas ainda não oxidou.
Já o leite, azedou.
Estaria a mama da mãe seca?
Treme a mão?
segunda-feira, outubro 31, 2005
quarta-feira, setembro 07, 2005
Hier soir
Hier soir j'ai fait le trottoir
Restos de pó de papoila
comprimidos estropiados
dejectos fossilizados
cantaria decomposta
a súcia que explora.
Piso a avenida.
Ziguezagueando espectros,
reconfortei-me no jejum
afoguei-me num copo de água
satisfez-me a bolha
filha do salto agulha.
Restos de pó de papoila
comprimidos estropiados
dejectos fossilizados
cantaria decomposta
a súcia que explora.
Piso a avenida.
Ziguezagueando espectros,
reconfortei-me no jejum
afoguei-me num copo de água
satisfez-me a bolha
filha do salto agulha.
sexta-feira, agosto 05, 2005
Requiem
Entre quatro paredes
de pedra dura
rogo-te que me magoes.
Relembra-me o corpo
e silenciarás a dor
num destes dias
de papier-maché
desses jornais
desses jornais
que descrevem o fogo
a cinza o fumo sobre a cidade
durante o horrível crepúsculo.
Que seja um requiem este opúsculo.
sexta-feira, julho 15, 2005
Milonga
Porque amo os teus cotovelos
eles são as esquinas mágicas
da minha imaginação
o prazer que nunca antes existiu
porque nunca antes me lembrei
porque nunca antes quaisquer cotovelos amei.
Não receio a sua aspereza
insisto não os amaciar com azeite
não os marinar em limão
os teus cotovelos precederão
o teu convexo.
eles são as esquinas mágicas
da minha imaginação
o prazer que nunca antes existiu
porque nunca antes me lembrei
porque nunca antes quaisquer cotovelos amei.
Não receio a sua aspereza
insisto não os amaciar com azeite
não os marinar em limão
os teus cotovelos precederão
o teu convexo.
segunda-feira, junho 20, 2005
Fim de noite
Numa noite quente
servida num cálice de tédio
um italiano canta
"Je m'en fous de mon passé".
Je suis d'accord
ma non troppo.
O português que estudou em Treviso
conquista a Alemanha Federal
(ou uma das suas Valquírias).
Enquanto isso,
a brisa lisboeta cai
sobre o meu bloco
um tudo nada arménio.
servida num cálice de tédio
um italiano canta
"Je m'en fous de mon passé".
Je suis d'accord
ma non troppo.
O português que estudou em Treviso
conquista a Alemanha Federal
(ou uma das suas Valquírias).
Enquanto isso,
a brisa lisboeta cai
sobre o meu bloco
um tudo nada arménio.
quinta-feira, junho 16, 2005
Comédia
O sono que pesa sobre as pálpebras
arrasta-me os braços e as pernas
num baloiço de penas.
Chronos, velho e pançudo,
rouba-me o corpo rabudo
para que o meu espírito possa
finalmente
baloiçar.
Nesse continente de querubins sem asas
dotados de helénicos marsapos
as Adrianas têm
de facto
muito por que suspirar.
É neste estádio
que encontro o gato burguês,
aquele que
por influência dos homens
não gostava de ratos
e não comia gatas.
arrasta-me os braços e as pernas
num baloiço de penas.
Chronos, velho e pançudo,
rouba-me o corpo rabudo
para que o meu espírito possa
finalmente
baloiçar.
Nesse continente de querubins sem asas
dotados de helénicos marsapos
as Adrianas têm
de facto
muito por que suspirar.
É neste estádio
que encontro o gato burguês,
aquele que
por influência dos homens
não gostava de ratos
e não comia gatas.
quarta-feira, abril 27, 2005
Ilha do tesouro
Jazida no caixão
encarcerada
Implantaram-me
finalmente no planeta.
Vermes e novas raízes já me encontraram.
Banqueteiam-se agora no meu ventre
gruta onde germinou a semente
cujo fruto verde crianças
e duendes
colheram à paulada.
Uma vinha ensolarada e infectada
é agora um verdadeiro repasto
Vive na Ilha de Samoa.
encarcerada
Implantaram-me
finalmente no planeta.
Vermes e novas raízes já me encontraram.
Banqueteiam-se agora no meu ventre
gruta onde germinou a semente
cujo fruto verde crianças
e duendes
colheram à paulada.
Uma vinha ensolarada e infectada
é agora um verdadeiro repasto
Vive na Ilha de Samoa.
quinta-feira, abril 14, 2005
Odisseus
Até quando
a condição de apátrida
o vaguear de quem quer mas não consegue
de quem conseguiria mas não quer
criar raízes
no recato
abundar procriar
Para quê cheirar cada torrão de terra
(a)palpar pedras e rochas
- porquê picar-me na agulha da roca?
Talvez inveje
as coisa sedentárias
toda essa comunidade
inerte que me espera e serve
sem revolta ou querer.
Nessa sua sonolência,
não me deixa dormir,
indiferente à minha vigilância.
a condição de apátrida
o vaguear de quem quer mas não consegue
de quem conseguiria mas não quer
criar raízes
no recato
abundar procriar
Para quê cheirar cada torrão de terra
(a)palpar pedras e rochas
- porquê picar-me na agulha da roca?
Talvez inveje
as coisa sedentárias
toda essa comunidade
inerte que me espera e serve
sem revolta ou querer.
Nessa sua sonolência,
não me deixa dormir,
indiferente à minha vigilância.
terça-feira, abril 12, 2005
Flora encarnada
Um beijo doce e corpo magro
são tudo o que gostaria de ter
clavículas como caules
a irromper do radículo
cerejas cor de mamilo
cabelo e pêlo macios
garras de água
sorriso desmedido
para depositar sobre
o túmulo do meu amor
são tudo o que gostaria de ter
clavículas como caules
a irromper do radículo
cerejas cor de mamilo
cabelo e pêlo macios
garras de água
sorriso desmedido
para depositar sobre
o túmulo do meu amor
quarta-feira, março 23, 2005
Amorphos
A verdade de verdade
é que só quero decompor-me
evaporar
Inexprimível o horror
que vejo.
é que só quero decompor-me
evaporar
Inexprimível o horror
que vejo.
(E bebo novamente o espelho
E bebo novamente o espelho)
E bebo novamente o espelho)
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